segunda-feira, 11 de março de 2013

Elementos para uma Reconstituição Histórica de Nossa Corrente


Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL)Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)São Paulo, Rio de Janeiro, 2012.
Os dez anos de Fórum do Anarquismo Organizado (FAO) estão sendo comemorados com a fundação da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), reunindo em torno do anarquismo especifista nove organizações estaduais e mais outras, que vêm se aproximando e aprofundando progressivamente os laços orgânicos conosco.
Nesse texto, trazemos uma primeira contribuição, com alguns elementos para uma reconstituição histórica de nossa corrente, ou seja, o anarquismo de matriz especifista, no Brasil.
Esperamos que outras contribuições possam ajudar a incrementar ou, eventualmente, corrigir as informações que aqui se apresentam.
REARTICULAÇÃO E CONTATO COM A FAU
A abertura política do fim da ditadura militar permitiu que voltassem à cena alguns anarquistas e que novos interessados se aproximassem.
Essa rearticulação se deu, fundamentalmente, em torno de periódicos, publicações, espaços públicos e debates, todos pautados em uma noção organizativa de síntese, com o objetivo de agrupar todos aqueles que se identificassem com a proposta anarquista – posição que preponderou no Brasil, pelo menos até os anos 1990. Era o momento, segundo acreditava a militância daquela época, de retomar os contatos, rearticular pessoas, reconstruir o anarquismo.
Podemos citar algumas iniciativas marcantes do anarquismo dos anos 1980. A mais antiga, do jornal Inimigo do Rei, da Bahia (1977-1988), serviu para trazer, ainda nos fins dos anos 1970, a discussão pública do anarquismo. Outra dessas experiências foi o Círculo de Estudos Libertários (CEL), do Rio de Janeiro, que contou com a participação decisiva de Ideal Peres que, nos anos 1980, integrou a Associação dos Moradores e Amigos do Leme para desenvolver trabalhos comunitários com o Morro Chapéu Mangueira e que estimulou a criação de outros grupos como o Grupo Anarquista José Oiticica e a revista Utopia (1988-1992). Destaca-se também a Editora Novos Tempos, de Brasília, com as publicações realizadas no período e as palestras promovidas por ela em todo o Brasil com o francês Jean Bancal sobre as idéias de Proudhon. Outra iniciativa relevante foi a reabertura do Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS-SP), em 1985, contando com a participação de militantes como Antônio Martinez, que possuía um passado de envolvimento com a luta sindical, e Jaime Cubero, que se envolveu na reativação da Confederação Operária Brasileira (COB), outra iniciativa relevante desse período. Sobre a COB, Cubero afirmou: “mesmo durante o período de ditadura chegávamos a encontrarmo-nos cerca de 90 pessoas [...] na clandestinidade, mas conseguíamos resistir”; ainda assim, a iniciativa não teve muito sucesso. Foi neste período, também, que os anarquistas voltaram a comemorar os Primeiro de Maio. Enfim, tratou-se de um período de reaparecimento público do anarquismo no país e de uma tentativa de “juntar os cacos” e começar a articular alguma coisa.
A militância que organizaria o especifismo, na segunda metade dos anos 1990, teve contato com algumas dessas experiências; umas delas geraram mais admiração e, outras, mais críticas. Por um lado, o contato com experiências organizativas e concepções distintas motivava a criação de uma nova proposta de anarquismo. Por outro, as relações com militantes mais antigos proporcionava, para alguns, um ganho de experiência que seria fundamental posteriormente. Destaca-se também, ainda no início dos anos 1990, uma experiência local relevante, do Grupo Mutirão, do Rio de Janeiro, que publicou um periódico de mesmo nome, e já vinha apontando para a necessidade de um anarquismo organizado e com inserção social. Com a participação de seus militantes em alguns movimentos populares, em especial na luta pela terra, oMutirão afirma em 1991:
“Nós anarquistas voltamos a afirmar: o socialismo se constrói pela ação popular direta, pela livre organização comunitária que prepara e educa a população a se tornar capaz de cuidar de si livremente, sem hierarquias e nem centralização de poder em nenhuma capital, mas em comunidades livres e federadas. [...] Nossa briga é pela tomada das terras, máquinas e serviços para as mãos do povo. A partir daí, os trabalhadores que construam o socialismo segundo a mais simples das teorias: a solidariedade.”
Tratava-se, para esses militantes de articular esse trabalho comunitário com as iniciativas sindicais e dar um caráter social, de luta com os movimentos populares ao anarquismo. Não estava muito claro, entretanto, como isso deveria ser realizado.
Em 1994, foram feitos os primeiros contatos com a Federação Anarquista Uruguaia (FAU), no fim do ano, com a viagem de um companheiro ao país. Tais relações se aprofundaram durante o ano de 1995 com o Rio Grande do Sul, culminado na fundação da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), em novembro daquele mesmo ano. Essas relações com a FAU, que se estabelecem de maneira bastante fraterna, se estreitaram ao longo do tempo. Entre os brasileiros, o modelo da FAU chamava muito a atenção por defender e praticar um anarquismo militante, combativo e organizado, que se refletia em sua própria história de luta. Desde os anos 1950, a FAU vinha tendo participação cotidiana nas lutas populares uruguaias, no seio de movimentos de massa de relevância e desenvolvendo posições interessantes acerca da organização específica anarquista. Essa luta, suprimida durante o recrudescimento da ditadura uruguaia, responsável pela morte de vários militantes da organização, havia incluído, inclusive, uma participação na luta armada contra a ditadura.
O modelo especifista adotado pela FAU defendia uma concepção determinada de organização política revolucionária, a organização específica anarquista, que chamou a atenção dos militantes brasileiros e foi parecendo cada vez mais adequado para essa retomada pretendida dos laços sociais entre o anarquismo e os movimentos populares. Ao tratar dessa concepção de organização anarquista, a FAU afirma
“ser uma expressão política dos interesses das classes dominadas, exploradas e oprimidas; e, colocando-se a serviço delas, aspira ser um motor das lutas sociais. Um motor que nem as substitui e nem as representa. Mas que pretende dinamizá-las e organizá-las, contribuir para a superação do aspecto meramente espontâneo, transcender os vaivens da conjuntura e assegurar a continuidade das rebeldias, das lutas cotidianas, das expectativas, aspirações, etc. Para nós, a organização política é também o âmbito em que se vai acumulando a experiência de luta popular, tanto em nível nacional como internacional. Uma instância que impede que se dilua o saber que os explorados e os oprimidos vão adquirindo com o tempo. [...] É a partir do trabalho militante organizado, e somente a partir dele, que se pode promover coerentemente e com força redobrada a criação, o fortalecimento e a consolidação das organizações populares de base, que constituem os núcleos do poder popular revolucionário.”
Tratava-se de um modelo inspirador, que poderia canalizar as energias latentes entre alguns brasileiros, em torno da necessidade de uma atuação sindical e comunitária, por meio de uma experiência concreta desconhecida à grande maioria dos brasileiros. Ao mesmo tempo organizar-se no nível social, dos movimentos populares, e no nível político, da organização anarquista.

sábado, 9 de março de 2013

Nota da CAB em Repúdio em Solidariedade aos Estudantes da UFMT


Repressão e Demonstração de Existência de práticas da Ditadura Militar no
Brasil em pleno Século XXI
“As classes dominantes querem impor que todos
joguem seu jogo. Um jogo inventado, previsto por
elas. Um jogo em que elas não podem perder. Este
jogo bem conhecido: partidos legais, propaganda
controlada, eleições periódicas… e tudo começa
igual novamente. Neste jogo elas têm uma carta
que “mata” todas as outras. É a repressão.
Politicamente falando, a ditadura. Convencer a
todos de que é assim, de que é inevitavelmente
assim, é o objetivo político da repressão.”(El Copey, FAU – 1972)
Constantemente é dito que não vivemos mais em uma ditadura, mas presenciamos o quanto isso é questionável. Durante todo período da ditadura militar no Brasil ocorreu todo tipo de prática repressiva inimaginável contra os movimentos sociais, talvez em maior proporção aos movimentos estudantis que naquele momento se colocavam de maneira mais radical contra a censura e aos ataques aplicados contra a liberdade de expressão. Estamos chegando aos quarenta e nove anos do golpe militar no Brasil, quase meio século do fim de uma ditadura que prendeu, torturou, violentou, assassinou e sumiu com os corpos de militantes da esquerda brasileira. Mesmo depois de quase meio século dessa barbáridade, voltamos a ver essas mesmas práticas repressivas sendo aplicadas contra os movimentos sociais.
Em Cuiabá, cidade do estado de Mato Grosso, presenciamos no dia seis de março uma brutal repressão contra estudantes que fizeram uma manifestação por melhorias na assistência estudantil e contra o fechamento de cinco casas destinadas para a moradia dos estudantes universitários da UFMT (Univesidade Federal de Mato Grosso). Os estudantes fecharam pacificamente a avenida Fernando Correa da Costa quando foram surpreendidos pela presença da ROTAM que foi chamada para realizar a dispersão e liberação da avenida que foi utilizada como ponto da manifestação, porém foi na avenida lateral ao campus universitário de Cuiabá conhecida como Alzira Zarur - avenida principal do bairro Boa Esperança, mesmo bairro onde um estudante da UFMT, natural de Guiné-Bissau, foi brutalmente assassinado pela policia militar do estado mato-grossensse – que os estudantes foram brutalmente espancados e presos. A prática de disperção utilizada foi tapas e socos, principalmente, nos rostos dos e das estudantes, disparos de balas de borracha a queima-roupa que atingiu também um pedreiro que trabalhava em uma obra próxima ao ato. Uma estudante tomou um tiro de bala de borracha na mão e com isso sofreu uma fratura e terá que passar por cirurgia. Outro estudante tomou um tiro na costela que fez com que o mesmo espelice sangue pela boca… sem contar as possíveis torturas que devem ter sido aplicadas aos estudantes detidos. Foi contabilizado através de informações de alguns participantes que dez pessoas ficaram feridas e seis foram presas.
Essa é a política ideológica da “Ordem e Progresso” e essa é a democracia na qual vivemos. Uma repressão, disfarçada de democracia, cada vez maior contra os movimentos sociais, uma repressão que vem crescendo cada vez mais dentro das periferias para a realização da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíada em 2016.
Nós da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) também nos colocamos contra as políticas de mercado aplicadas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), voltadas para a precarização e a privatização da educação pública, e, reivindicamos a ampliação e implementação de políticas efetivas de assistência estudantil que garantam o acesso e a permanência. Algumas das várias bandeiras defendidas pelo movimento estudantil.
Portanto, declaramos total repúdio a brutalidade exercida pelo corpo militar repressivo do de Cuiabá e a postura conivente da administração superior da UFMT.
Declaramos também nossa total solidariedade a todas e todos estudantes que foram feridos e presos!
Por uma Educação Pública e de Qualidade!
Pela Autonomia dos Movimentos Sociais!
Contra a Brutal Repressão aplicada pelo Estado contra os Movimentos Sociais
Combativos e Classistas!
A História são os pobres que as fazem, a Vitória está nas Mãos de
quem Peleia!
Não tá morto quem peleia!
Coordenação Anarquista Brasileira – CAB
Video da repressão aos estudantes da UFMT:


quinta-feira, 7 de março de 2013

Considerações sobre a morte de Hugo Chávez

Hugo Chávez

Para refletir. A Venezuela se encontra diante de um impasse. Na arena externa, o vice-presidente em exercício, Nicolás Maduro, teve de expulsar dois diplomatas dos Estados Unidos hoje, pouco antes do anúncio do falecimento de Hugo Rafael Chávez Frías. Ou a inteligência do país, auxiliada de fato pelo G2 (serviços de inteligência cubanos), de fato identificaram sondagens nas FFAA (o que ocorre sempre), ou então se tratou de manobra diversionista. Mas a probabilidade de alguma articulação para desestabilizar o país é bem alta. 
Pouco depois, foi anunciada a morte de Hugo Chávez. Na semana passada, o baita jornalista Elias Aredes Junior me perguntou exatamente se eu achava que Chávez voltara à sua terra natal para falecer? Entendo que sim. Já terminal, optou por morrer no país e com isso ajudar o condicionamento da sucessão. O problema não reside aí, e sim nas múltiplas possibilidades de cenários no futuro próximo.
A cancha está aberta…
Projetando cenários para a Venezuela pós-Chávez
1) Cabello assume como presidente do Poder Legislativo e Maduro concorre pelo PSUV; já Capriles, pela oposição unificada. Seria uma eleição única, onde o Departamento de Estado e o continente, além dos capitais Ibero-americanos e as petroleiras, estarão presentes. 
2) Maduro garante o exercício do Poder Executivo e não transfere no prazo constitucional o poder para o Parlamento. A oposição ameaça não participar do processo. Neste caso, o papel das FFAA é fundamental para a manutenção chavista do poder.
3) O PSUV racha e a oposição também. Este cenário é muito improvável, mas pode vir a ocorrer no campo da oposição, caso a direita não tenha uma eleição agendada para logo. No caso, a cancha fica aberta, inclusive com maior agressividade do Império.
4) Mesmo que Nicolás Maduro saia vencedor das eleições marcadas – o mais provável – abre-se uma segunda rodada no exercício do poder pelo líder chavista. A interna do PSUV está terrível e pode haver racha interno; mas isto seria após uma provável vitória nas urnas.
PSUV no poder
Para concluir a primeira projeção, lembro do populismo na Argentina.
O peronismo sem Perón é diferente do peronismo com Juan Domingo, o que também já não era muita coisa diante das propostas de juventude de esquerda que se somou ao movimento no final dos anos ’60. No caso venezuelano, a reprodução da cultura política do país por dentro do PSUV (formado por caudilhos e mesmo politiqueiros reconvertidos, os setores são chamados de direita endógena) é marcante. O problema seria a quebra do pacto. 
O PSUV existe em função de Chávez. Na sua ausência, a dimensão ideológica não é tão forte como a conveniência de estar bem com o Executivo. Hoje existem diversos peronismos e existirão diversos chavismos em um par de anos. O mais provável é que, até as próximas eleições, nada venha a ocorrer. Até porque a tendência é que Maduro seja o candidato oficial e vença nas urnas.
Mas se o PSUV perder, dificilmente a direita leva o poder, mesmo que o ganhe nas urnas. Seria também uma quebra de pacto, assim como os rasgos de constitucionalidade se rompem ao não serem convocadas as eleições nos prazos legais. O chavismo sempre se baseou na legalização e constitucionalização do processo, quase sempre deixando como pauta do longuíssimo prazo, ou da terra do nunca, o câmbio social profundo ou o problema da sucessão. 
Agora o problema chegou e a balança só pode pender para o processo bolivariano se houver um grau elevado de unidade pelas forças sociais – como rádios comunitárias, o que existe de sindicalismo combativo, movimento indígena, palenqueros (equivale a quilombolas) e o que sobrou da comunidade urbana organizada e mobilizada em Caracas e nos estados vizinhos. 
Neste último caso, repousa o controle sobre e das milícias. Se este controle estiver com as lideranças – duvidosas em sua maioria – do PSUV, tudo pode acontecer inclusive durante o provável governo de Maduro. Já se este controle estiver com a parte mais radicalizada dos diversos movimentos bolivarianos, como Tupamaros, Andrés Vive, Comunidades al Mando, Frente Campesina Zamora, entre outro, aí existe alguma chance de câmbio profundo, desde que não se instale um cenário onde as FFAA reprimam diretamente o movimento popular, ao menos não num primeiro momento.
No momento, as urgências dizem respeito ao fato de serem ou não convocadas eleições e se antecipar aos movimentos do Depto de Estado, da mídia palangrista e dos esquálidos. Mas isso é agora; o médio prazo é logo ali, assim que Maduro assumir o poder pelas urnas (de novo).

Bruno Lima Rocha


terça-feira, 5 de março de 2013

A pró-imperialista Yoani Sánchez e os debates no campo da esquerda: uma opinião socialista libertária


Federação Anarquista do Rio de Janeiro
Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira
A vinda da “ativista” Yoani Sánchez despertou atenção de muitos, reacendendo um debate não apenas sobre o governo Cubano, mas também sobre questões-chave aos trabalhadores e aqueles que lutam. Modestamente, tentamos emitir nossa opinião sobre o tema. Ainda que o debate gere e reacenda muitas paixões, permitimo-nos tecer algumas considerações.
Que fique claro: uma pró-imperialista que defende a “liberdade” em marcos muito distantes dos da classe trabalhadora. Primeiramente, precisamos afirmar que há argumentos bastante plausíveis de que Yoani é sim uma agente do imperialismo estadunidense e que recebe apoio (financeiro, logístico e político) do governo dos EUA e/ou dos grupos anti-castristas da Flórida para promover seus ataques contra Cuba (amplo apoio tecnológico, de tradução, recursos, etc.). A blogueira defende, lamentavelmente, um capitalismo sui generis (ver entrevista citada no final deste documento), tudo o que nós socialistas libertários condenamos e combatemos. Assim, é preciso que fique bastante claro, que Yoani é uma inimiga de quaisquer avanços populares. Na sua vinda, por exemplo, foi recepcionada e ovacionada pelos setores da direita mais reacionária do país e que surfaram na “popularidade” fabricada de Yoani. Cabe ressaltar, também, o enorme destaque dado pela imprensa monopolista do RJ (Globo) e de SP (Folha e Estadão). Tal destaque não foi dado, por exemplo, ao militar que denunciou crimes de guerra dos EUA, Bradley Manning (que hoje se encontra preso nos EUA) e, tampouco, a Julian Assange, que revelou as entranhas do imperialismo com a wikileaks, sem qualquer defesa entusiástica por parte da mídia burguesa.
Neste caso, Yoani e a mídia corporativa na sua luta pela “liberdade” de expressão, enquadram-se na mentalidade e demandas (neo) liberais mais canhestras, pois prontamente atacam as conquistas sociais da Revolução Cubana. Posicionamo-nos, neste sentido, em repúdio à atuação desta personagem, que está sendo utilizada pelas instituições mais perversas do cenário mundial e que, ao que tudo indica, parece estar gostando disto. Aqui, por exemplo, foi recepcionada por deputados claramente vinculados a direita política, os mesmos que ajudam a oprimir nosso povo. Se a mídia burguesa e os setores de direita dão todo apoio a Sánchez isso indica que querem silenciar outras vozes, inclusive vozes críticas ao isolamento/burocratização de Cuba, mas que não fogem dos marcos de um socialismo que debata também a real socialização das decisões políticas. Neste ponto, estamos decididamente com a classe trabalhadora e seus lutadores. Repudiaremos quaisquer formas de imperialismos, que tanto massacram nosso povo e os povos em outras partes do mundo.
Fundamentamos essas questões a partir de um referencial classista, socialista e libertário, o qual não vamos abrir mão. A liberdade exigida por Yoani Sánchez não é nem de longe a mesma exigida por nós, anarquistas. Não pode haver, como bem ressalta Mikhail Bakunin, liberdade sem socialismo e, tampouco, socialismo sem liberdade, esta equação, que guardadas às ironias, é admitida como impossível por estalinistas e liberais e que orienta as demais considerações a seguir.
Além da denúncia da atuação lamentável de Yoani, cabe um debate necessário e fraterno sobre questões caras ao campo da esquerda e aos lutadores populares. Sabemos entretanto, que quando alguma organização faz este debate, o estalinismo costuma “colocar no mesmo saco” as críticas ao seu modus operandi pela esquerda, como “críticas de direita”. Quanto a esse procedimento histórico, só podemos lamentar sua profunda miopia política e falta de autocrítica. Falamos à partir de um lugar determinado. O lugar dos que lutam, dos que repudiam o imperialismo e dos que colocam modestamente sua pequena parte nas barricadas contra o capital.
A Revolução Cubana, que retorna na polarização Yoani e castristas ou pró-cubanos foi um marco para o imaginário e o avanço das lutas populares na América Latina. Os anarquistas, a despeito do desconhecimento ou silenciamento histórico sobre sua participação, cerraram fileiras com o povo cubano. Protagonizaram a revolução junto com outros setores populares, participando ativamente dos sindicatos que existiam em Cuba, à véspera da revolução e nas lutas que se seguiram. Com o golpe castrista, esses mesmos companheiros, que estavam juntos na luta, foram traídos por discordarem do modelo autoritário implementado paulatinamente por Fidel Castro e alguns membros de seu estado-maior. A lista de socialistas libertários perseguidos pelo regime castrista é longa. Rolando Tamargo e Ventura Suárez, fuzilados; Sebastián Aguilar Filho, assassinado a tiros; Eusebio Otero apareceu morto em sua casa; Raúl Negrín, acossado pela perseguição, se suicidou ateando-se fogo’. Por outra parte, foram detidos e condenados a penas de prisão os seguintes companheiros: Modesto Piñeiro, Floreal Barrera, Suria Linsuaín, Manuel González, José Aceña, Isidro Moscú, Norberto Torres, Sicinio Torres, José Mandado Marcos, Plácido Méndez e Luis Linsuaín, oficiais estes dois últimos do Ejército Rebelde (Exército Rebelde). Francisco Aguirre morreu na prisão, Victoriano Hernández, doente e cego pelas torturas carcerárias, suicidou-se; e José Alvarez Micheltorena morreu poucas semanas antes de sair da prisão”. Casto Moscú, como citado acima, foi preso na sede da ALC – que abrigara membros do M26J durante a revolução. Logrou um indulto e rumou para o exílio no México. Esses lutadores eram todos notórios anticapitalistas e antiimperialistas. Não se alinhavam com os que esmagam nossa classe, mas mesmo assim foram perseguidos por defenderem o socialismo libertário.
Os setores estalinistas, como vimos, logo que se encastelaram no poder, destruíram a diversidade das correntes de esquerda existentes em Cuba e limitaram profundamente as melhores possibilidades da Revolução. Esmagaram, assim, a heterogeneidade ideológica que permitia o debate fraterno e a democracia popular no campo da esquerda. O socialismo perseguido pela revolução cubana em seus horizontes logo se transformou em um primitivo capitalismo de estado, na ilha que ainda hoje depende da produção açucareira e do turismo. Muitos avanços e conquistas da Revolução foram mantidos e hoje são um orgulho para o povo cubano, como no campo da saúde e da educação. Mas o retrocesso produzido pelo estalinismo impediu o povo de construir o poder popular de fato. O processo revolucionário em Cuba não deve ser confundido com o castrismo, que nada mais é do que uma política de centralização do poder e de burocratização da histórica e heróica Revolução Cubana. Apoiamos o povo cubano e a Revolução e repudiamos firmemente o imperialismo estadunidense. Ao mesmo tempo, nos posicionamos sempre críticos e alertas ao estalinismo e a burocracia vermelha que esmagam as conquistas históricas das revoluções e silenciam as oposições de esquerda que intentam radicalizá-las. A burocratização das revoluções é sempre a primeira etapa da derrota popular. Assim o foi com a URSS e, ao que tudo indica, se o povo cubano não conseguir imprimir seu protagonismo por fora das burocracias, assim o será com a ilha de Cuba.
A democracia direta, que nós anarquistas defendemos, pressupõe o protagonismo e o federalismo como tática e estratégia que conforma o poder popular e constrói os instrumentos de luta da classe trabalhadora. O socialismo para nós não pode ser construído sem democracia direta e liberdade, tampouco sem classismo, ação direta e protagonismo popular. Na URSS, por exemplo, Leon Trotsky abriu, nesse sentido, um largo caminho para o estalinismo, militarizando os sovietes (conselhos de trabalhadores) e reprimindo brutalmente os trabalhadores que os defendiam. Liderando o Exército Vermelho, esmagou a comuna de Kronstadt e a Revolução Social na Ucrânia. Os trotskistas, sempre que falam de democracia, o fazem com um pesado “cadáver” histórico em seus ombros.
A defesa da democracia direta, do classismo e do poder popular passa pela nossa atuação nos movimentos populares, sindical e estudantil. Nesse caminho de construção dessa democracia direta e popular das bases acaba esbarrando com práticas de burocratização que abrem as portas para a falta de liberdade e para o possível retorno da direita ao cenário político após os processos revolucionários. Por isso, defendemos ampla participação popular e democracia direta, construindo um poder popular que emane das bases, para que não se encastelem nos movimentos populares (sindical, rural e estudantil) vanguardas que façam o povo deixar de decidir sobre seu próprio destino e freiem os processos revolucionários.
Combateremos sempre, como minoria ativa, quaisquer formas de imperialismo e de burocratização, assim como nos colocaremos permanentemente enérgicos contra a democracia burguesa que oprime os trabalhadores e trabalhadoras do mundo.
Todo apoio ao povo cubano! Fora Yoani Sánchez! Pela democracia direta e popular contra a burocratização!
Conferir mais sobre o tema:
Revolução Cubana: mais à esquerda que o castrismo

Fonte: FARJ

Ousar o anarquismo – vídeo



O filme é um recorte histórico sobre a influência anarquista nos surgimentos dos movimentos sindicais no brasil com a chegada da imigração italiana. Filme da Rio de Cinema e Arquivo Nacional realizado pelo grupo Glauber Rocha da oficina de videos do Recine 2011, coordenada por Luis Carlos Lacerda (Bigode). Um filme de Ventolidio José, Tiago Araujo, Carolina Niemeyer e Ana lygia.
Com:
CARLO ROMANI (HISTORIADOR – ANARQUISTA)
MILTON LOPES (FARJ)

N O V O C I N E M A M A R G I N A L

segunda-feira, 4 de março de 2013

III Jornada de Lutas da Mulher

Companheiras do Mulheres Resistem iniciaram no último dia 4 de março a II Jornada de Lutas da Mulher, com o debate sobre a violência contra a mulher. 
https://www.facebook.com/pages/Mulheres-Resistem/113289132092513


Mulheres Resistem:


Como mulheres, nos reunimos para a construção do Coletivo Mulheres Resistem!, por acreditarmos que toda forma de opressão contra o povo deve ser veementemente combatida. Lutamos para romper com a prática machista nos espaços de trabalho, moradia, estudo, militância...Contra o conformismo, a submissão e toda forma de rechaço à mulher.  O protagonismo da mulher na luta feminista é mais que justo, pois somos nós que sentimos e vivenciamos os valores e concepções de mundo determinados por um grupo dominante, sendo assim tomamos a responsabilidade de lutar para que a sociedade reconheça que mulheres e homens se equivalem, e que ambos tenham condições dignas de vida.