sábado, 29 de junho de 2013

59 anos de Mumia Abu Jamal, a voz dos sem-voz


Hoje o ex-integrante do Partido dos Panteras Negras completa 59 anos, dos quais 31 passados no corredor da morte. Condenado à morte por, supostamente, matar um policial que espancava seu irmão, no início dos anos 80, Mumia tornou-se conhecido pelo seu programa de rádio "A voz dos sem-voz".

Jornalista e militante negro anti-racista, ao longo de 20 anos ele travou uma incessante batalha judicial repleta de apelos por um julgamento justo, com o apoio de personalidades e milhares de manifestantes. Devido à constatação de inúmeras irregularidades em seu processo, a data de sua execução foi várias vezes marcada e depois suspensa. Apesar das autoridades tentarem tratá-lo como um criminoso comum, atualmente Jamal é o único prisioneiro político dos Estados Unidos condenado à morte, embora não tenha sido o primeiro.

"Em seus textos, lidos e traduzidos para vários idiomas, Mumia sempre denunciou o encarceramento em massa como estratégia de criminalização da população afro-americana, indígena e imigrantes que resistem ao estilo de vida predatório naquele país."


Não esquecemos os nossos Mumia, estamos com você!

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Álibi do Governador Tarso para justificar a repressão da Brigada Militar às passeatas: criminalizar o anarquismo



Diante da atual conjuntura nacional, onde vemos um movimento de ampla escala e do mais variados matizes tomar conta das ruas, algumas questões merecem ser melhor analisadas. Um delas é o fato inegável de que as passeatas por todo o país revelaram algo que muitos militantes de movimentos sociais inseridos em comunidades de periferia já sabiam, mas que não tinham condições de comprovar: o péssimo modelo de polícia que temos nesse país. A excessiva truculência, o desprezo com a integridade física dos cidadãos, o uso inadequado de força e dos instrumentos e armas que lhes são fornecidos, o desrespeito às leis de direitos humanos, etc. Apesar de ter chamado a atenção da mídia internacional, no Brasil, contudo, tais questões têm sido tratadas com desdém. E toda a ação policial é sempre justificada a partir da questão da depredação do patrimônio público e dos atos de vandalismo perpetuados por alguns poucos integrantes mais violentos presente nas passeatas.

É dentro desse contexto que, vendo-se na obrigação de responder aos questionamentos que lhe foram feitos a respeito da ação da BM nas duas últimas passeatas em Porto Alegre, o governador Tarso genro respondeu que a polícia só agiu com violência como forma de reação e defesa. O problema é que os relatos que pipocam na Internet e os vídeos que os acompanham parecem sugerir um quadro diferente. Pessoas baleadas no olho e em outras partes sensíveis do corpo com balas de borracha, uso inadequado de gás em pontos onde havia intensa aglomeração de pessoas (o que dificulta o recuo e leva à inalação prolongada do gás) e outras descrições e relatos nos fazem duvidar da tese do “apenas em defesa”. Vídeos mostrando manifestantes sentados no chão, gritando “sem violência” e sendo em seguida bombardeados, também levam ao mesmo caminho. O governador afirma que houveram depredações antes da PM começar a ação, mas o relato das pessoas que estavam na Avenida Ipiranga naquela noite conta outras versões da história.

Parece demasiado oportuno que a questão da depredação do patrimônio público – justificativa utilizada para toda ação violenta da Polícia durante as manifestações em Porto Alegre - encontre, em seu contexto local, rapidamente um bode expiatório. E este bode expiatório têm sido os movimentos sociais de extrema-esquerda que, em Porto Alegre, identificam-se pelo nome de “anarquistas”.

Na capa da Zero-Hora do dia 22 de junho de 2013, aparecem duas fotos mostrando as depredações ocorridas em Porto Alegre no final da última passeatas . E em uma delas, faz-se questão de exibir um Símbolo: um “A” dentro de um círculo, pichado em tinta vermelha. Para quem não sabe, esse é um dos (muitos) símbolos do anarquismo. Digo muitos porque o anarquismo divide-se e sempre dividiu-se em várias correntes. Isso as reportagens que lemos ao folhear as páginas do referido o jornal não explicam. Ao invés disso, caem numa generalização, citando “os anarquistas” de Porto Alegre e culpando-os por todos os atos de vandalismo que ocorreram na cidade nas últimas semanas. Os anarquistas de Porto Alegre são apontados como “jovens desorientados que caem na marginalidade” e “entendem que a violência é a solução para tudo”. E para coroar este quadro diabólico do anarquismo, ainda afirma que “foram abordadas as conexões dos anarquistas de Porto Alegre com grupos internacionais”.

Sou Professor Universitário. Moro em Porto Alegre. Já conheci e participei de diversos movimentos sociais de esquerda das mais variadas correntes. E dentre estes movimentos, algumas das muitas correntes que, em Porto Alegre, assumem-se como anarquistas merecem de mim um profundo respeito e admiração. Embora não seja militante de nenhuma dessas correntes, em diversas ocasiões pude participar de eventos culturais por elas promovidos, que servem de importantes fóruns de debates públicos sobre o pensamento libertário a pedagogia anarquista e outros assuntos. Todos estes eventos contribuíram de alguma forma para a minha atual formação intelectual. E é em virtude disto, venho por meio desse texto dar especial atenção a essa forma como a mídia gaúcha tem tratado a imagem dos movimentos anarquistas em Porto Alegre. 


Anarquismo, para quem não sabe, é movimento social de esquerda. Sempre foi. Salvo em algumas estranhas deturpações ocorridas na Europa onde se misturou ao movimento Skinhead, sempre divulgou uma visão de esquerda. Extrema-esquerda, é verdade. A-partidária e crítica das tendências políticas marxistas. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o nome “anarquia” nunca foi sinônimo de bagunça, de fim da civilização ou de barbárie. Pelo contrário, historicamente representou uma determinada forma de concepção política de mundo e de sociedade. No Rio Grande do Sul, por exemplo, foram os anarquistas quem deram início ao movimento sindicalista operário. 

Anarquismo, para quem também não sabe, é referência à novela de História em Quadrinhos “V de Vingança”, onde o personagem “V”, um anarquista, utiliza uma máscara que representa o revolucionário inglês Guy Fawkes e que atualmente passou a ser utilizada mundialmente pelo movimento chamado Anonymous. Esta máscara tem sido utilizada em vários lugares do mundo, incluindo Porto Alegre. E para dizer bem a verdade, essa é a única relação mais ou menos vaga entre um suposto “anarquismo internacional” e as passeatas que está acontecendo em Porto Alegre. Apenas isto: o uso de uma máscara.


Até onde sei, nenhum grupo anarquista de Porto Alegre não têm conexões internacionais. Todos eles têm caráter público, não secreto. Possuem sedes igualmente públicas. E têm no máximo conexões nacionais. A FAG (Federação Anarquista Gaúcha), cuja biblioteca “O Ateneu Libertário: A Batalha da Várzea” foi arrombada e invadida no dia 20 de junho de 2013 , também sempre teve caráter público, mantendo o diálogo com universidades, com outros movimentos sociais e com grupos artísticos por meio de diversas atividades culturais e de debate político no Rio Grande do Sul. Durante essa operação de arrombamento aliás, cabe ressaltar, foram apreendidos livros que encontramos em qualquer biblioteca de qualquer grande universidade do país. Dentre os “perigosos” livros apreendidos, consta, por exemplo, a obra “Os Anarquistas no Rio Grande do Sul”, de João Batista Marçal, editado com apoio da Secretaria de Cultura de Porto Alegre no ano de 1995, no período em que Tarso Genro era prefeito.

Ações questionáveis como essa da Polícia, aliadas às colocações absurdas veiculadas pelos meios de comunicação me levam a refletir com preocupação sobre o clima de criminalização a todos os movimentos denominados anarquistas em Porto Alegre. E também sobre a forma a meu ver equivocada como o Governador Tarso tem lidado com a situação, contribuindo, através de seus pronunciamentos em entrevistas, com elementos que reforçam a difamação injusta a estes movimentos.


Na reportagem da edição citada da Zero hora aparece, por exemplo, a afirmativa de os anarquistas de Porto Alegre “odeiam a comunidade negra, odeiam homossexuais”. Ora, em todos os eventos que participei em Porto Alegre que integravam membros de vário grupos e correntes do anarquismo organizado foram convidados membros do Movimento Negro, LGBT e feministas. Em diversas ocasiões, vi militantes dessas organizações anarquistas de Porto Alegre apoiando passeatas e manifestações de outros movimentos, como o MST, o MNCR, o MTD, o movimento indígena, etc. E isto inclui a FAG, que parece ser, dentro todos os movimentos anarquistas de porto Alegre, o objeto privilegiado da calúnia e da difamação. Então, nenhuma afirmativa poderia ser mais caluniosa e descabida sobre os movimentos anarquistas que existem em Porto Alegre. 

O mito de uma conspiração internacional anarquista destinada a promover ações de guerrilha durante as passeatas parece ser o que está se tentando inventar. As conseqüências disto deixam-se imaginar facilmente: a criação, no público em geral que frequenta as passeatas, de um estado psicológico de terror capaz de fazer parecer justificável toda a sua ação exageradamente repressiva e violenta por parte da Polícia. É sobre esse assunto que, nesse texto, convido o leitor a refletir. 

Em Porto Alegre, a repressão policial foi em vários momentos excessiva, sendo jogadas bombas de efeito moral e gás lacrimogênio em pessoas que não praticavam nenhum ato de vandalismo. O Governador Tarso Genro nega. Mas a consequente revolta popular (que aí sim resultou em vandalismo, depredações, etc) não poderia ser explicada de outra forma senão criando um fantasma atemorizante. Uma ficção. Assim a presença de bandeiras anarquistas, grupos anarquistas e indivíduos punks nas passeatas conjugado com o fato de que, no imaginário do senso-comum, “anarquismo” é sempre associado a bagunça, a terrorismo ou vandalismo, parece ser capaz de constituir o álibi perfeito. É o suficiente para desviar a atenção do fato de que durante as passeatas, no Rio Grande do Sul, a Brigada Miliar defende fisicamente o perímetro do prédio da Zero-Hora/RBS, transformando aquela região em uma praça de guerra, ferindo qualquer manifestante que de lá se aproximar.

Esta estratégia, que vem sendo veiculada pela mídia, procura responsabilizar organizações e não indivíduos, correntes de pensamento e não pessoas. Quando uma ideologia inteira de esquerda, como o anarquismo, é difamada e caluniada, devemos começar a nos preocupar. A criminalização de movimentos sociais é algo ainda muito mais sério.

domingo, 23 de junho de 2013

SACCO E VANZETTI DE BOMBACHAS: É ISSO O QUE QUER O GOVERNO TARSO GENRO?


Porto Alegre, 23 de junho de 2013 - refletindo


Por enquanto está tudo meio confuso, acho até que a Polícia Civil daqui e o Piratini escolheram o alvo errado mesmo. Assim como Yeda Crusius, atiraram no que achavam que viam e acertaram, no que eles nem sequer imaginavam. Por ex: tem companheir@s de distintas frentes sociais, que estão no 2o escalão do governo estadual que nos conhecem e militaram junto com a gente. Vamos ver se virão ou não mandados através do Poder Judiciário. Mas, compa, o que eu acho que dá para fazer é explicar que em Porto Alegre só tem repressão e consequente revolta popular - e aí sim, depredações contra a cidade - em função de que a Brigada Militar defende fisicamente o perímetro da RBS, transformando a região em praça de guerra. Já a presença da direita em escala nacional, ou especificamente em São Paulo, todos concordamos e temos de combater isso. 



Se desmontar esta peça no Brasil é complicado, no Sul é fácil. O Bloco de Luta pelo Transporte 100% Público continua convocando e é uma frente unitária. Tamanha é a desfaçatez do Tarso que ele pediu, na coletiva de imprensa, que PSOL e PSTU nos deixassem isolados! E aí na noite de sexta 21/06, após esta coletiva, a RBS chama um programa local, Conversas Cruzadas, onde tem a presença de um militante da ANEL, da Juventude do PSTU. Estão sinalizando, o tempo todo, e tentando se mostrar como “responsáveis”, mas só tem violência estatal em Porto Alegre em função deles. No Sul jamais foram “proibidas” bandeiras de frentes e agrupações sociais e movimentos populares, no Sul a esquerda jamais perdeu a coordenação do movimento. Basta ver a foto de capa da própria ZH de 6a (21/06). Todos os argumentos do Piratini contra a FAG - não falam diretamente, mas a Civil invade a sede, uma Biblioteca em local turístico e apreendem LIVROS - são furados e não se provam e se desmoralizam politicamente. O próprio Tarso quando prefeito de Porto Alegre apoiou a edição do livro Os Anarquistas do Rio Grande do Sul (1995). É um festival de absurdos, fazendo gracinha e tentando pegar carona como porta-voz de um novo momento político e com a RBS empurrando-o. 



Além da nota orgânica, que deve contar com assinaturas de apoio e solidariedade - e que está por sair - o que dá para fazer é circular toda a história mesmo, com rigor de datas e fatos (conforme enviei os links jornalísticos) e tornar essa opereta tipo Sacco e Vanzetti de Bombacha um deboche em escala nacional. A FAG sempre trabalhou pela unidade dentro do anarquismo, trazendo para a militância setores mais difusos, compondo e respeitando todas as vertentes do anarquismo, assim como a unidade pela base nas lutas concretas. TODO MUNDO QUE FAZ POLÍTICA NO SUL DO BRASIL SABE DISSO. Fazer circular estas informações, aliás, corretas factualmente (como a síntese que segue abaixo), já ajuda muito. 



PORQUE A PALAVRA NÃO SE RENDE - Rodolfo Walsh



Síntese das matérias de Zero Hora com a postura do Poder Executivo e as notas respostas da FAG



Oi, abaixo segue a recompilação de matérias e respostas provisórias da FAG diante da campanha da Zero Hora (principal jornal do grupo RBS), difundindo declarações do governador Tarso Genro (PT) e da Segurança Pública do estado. 



Matéria que dissemina a calúnia de que existem militantes internacionais treinando em tática de guerrilha aos anarquistas militantes do Rio Grande do Sul:http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2013/06/violencia-em-protestos-no-rio-grande-do-sul-preocupa-o-palacio-piratini-4175283.html









Primera nota da FAG a esta resposta, provisória:http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2013/06/520412.shtml



Segunda nota da FAG, resposta provisoria, ainda que mais larga:http://batalhadavarzea.blogspot.com.br/2013/06/policia-federal-invade-sede-da.html (aún se creía que era la Federal)



Reportagem do jornal eletrônico do Rio Grande do Sul, que dá a versão da FAG



A reportagem de Zero Hora difunde um resumo da coletiva do governador dada na sexta dia 21/06/2013, responsabilizando os anarquistas (e a FAG por tabela) e pedindo que a esquerda isole o anarquismo militante dos protestos: 

O enredo de uma farsa! A tentativa de criminalização da Federação Anarquista Gaúcha


Na tarde de quinta feira (20/06/2013), antecedendo o protesto que já se previa multitudinário na capital gaúcha, ocorreu a invasão mediante arrombamento do Ateneu Libertário A Batalha da Várzea, executado por agentes policiais sem identificação. Devido a isto, no comunicado da madrugada de sexta-feira, dia 21 de junho, informamos que a invasão havia sido realizada pela Polícia Federal, afinal de contas assim se apresentaram os agentes da repressão.

Através da coletiva concedida pela cúpula da Segurança Pública do governo do RS, na tarde da sexta-feira, dia 21 de junho tivemos a informação que tal operação foi realizada de fato por agentes da Polícia Civil, omitindo-se o fato de que a operação se deu de forma ilegal, sem o correspondente mandato judicial, conforme o apurado pela assessoria jurídica que nos apóia nesse momento, de forma solidária.

Esta coletiva de imprensa portanto não poderia anunciar outra coisa se não uma farsa,na busca de um bode expiatório para responsabilizar pelas manifestações de violência ocorridas nos protestos de forma generalizante, acusando que todos os atos de depredações e “vandalismos” fossem de responsabilidade dos anarquistas presentes nos protestos e especificamente dessa organização política, como já dito anarquista. 

O fantasma atemorizante criado nas redações da RBS: a presença de bandeiras anarquistas, grupos e indivíduos punks e o já folclórico devaneio do âncora da RBS Lasier Martins “mascarados anarquistas” deram a tônica da conspiração em curso. Apresentaram-se “provas”, segundo a polícia nessa operação ilegal, de materiais para confecções de coqueteis molotovs e um mapa com a identificação de órgãos de segurança do Estado, com o quê buscam afirmar que planejávamos desatar ataques. 

Além de tais objetos plantados, a coletiva para a mídia corporativa retira a sua máscara e demonstra a farsa em curso, o real objetivo da operação. Segundo o próprio chefe da Polícia Civil, o delegado Ranolfo Vieira Jr. “é importante dizer que nesse local também foi apreendido vasta literatura, eu diria assim, a respeito de movimentos anarquistas.” Considerando que os geniais homens da “inteligência” invadiram uma biblioteca libertária, é natural que achem livros senhores Ranolfo e Tarso Genro. Não sabíamos que uma literatura anarquista, tanto atual como histórica, constitui prova de crime. Desde quando livros estão proibidos em nosso estado? Sim, isto é verdade, levaram muitos livros e o fichário dos usuários da biblioteca do Ateneo, dos quais exigimos a restituição em nossas prateleiras. 

Dentre os “perigosos” livros apreendidos, consta a obra Os Anarquistas no Rio Grande do Sul, de João Batista Marçal. O livro foi editado com apoio da Secretaria de Cultura de Porto Alegre no ano de 1995, justo no período em que Tarso Genro era prefeito! Quem faz a introdução é Luiz Pilla Vares e a apresentação é de Olívio Dutra. Ou seja, se publicar livros anarquistas é crime ou ato suspeito, o atual governador já ajudou nesta ação “perigosa”. 

Voltou a Censura no Brasil? Ou só no Rio Grande do Sul? O Ateneo Libertário A Batalha da Várzea localizado na Travessa dos Venezianos é um espaço público, de fato uma biblioteca, como já dito, na qual se organizam várias atividades políticas e culturais, em muitas delas inclusive com a participação da vizinhança local. Usamos também instrumentos musicais, teatro, tintas, pincéis, sprays para expressar através das artes nossas críticas e nossos anseios, enfim nossa ideologia. Quando nos apropriamos de palavras, as usamos para expressar idéias, estas armas perigosíssimas!. Quando tornaram-se criminosas as idéias dissonantes do status quo? 

Além dos “perigosos” livros, a repressão política do RS afirma ter encontrado material inflamável. Sabemos que qualquer objeto além de um botijão de gás foi plantado com o objetivo de incriminar e isolar, a partir da repressão e da guerra psicológica, nossa corrente libertária e combativa, do atual cenário político. Começou com os factóides plantados pela RBS, onde aparecíamos como elementos “sociopatas” que planejam desatar inúmeras operações de guerrilha na cidade. Ora, precisamos de gás para aquecer a água pro mate. 

Quanto ao mapa citado pelos chefes do aparato repressivo do estado, sob responsabilidade do governador, afirmamos aqui com veemência que não sabemos do que se trata, considerando ser essa operação ilegal, não há dificuldades em supor que seja algo “implantado” numa tentativa clara de nos criminalizar.

Reconhecemos sim e muito bem outro mapa, o da cidade de Porto Alegre, sua periferia e centro, porquê é aqui que vivemos e lutamos junto aos diversos setores das classes oprimidas, organizados ou não, socialistas ou não, enfim, o povo organizado contra a dominação e por melhorias nos serviços públicos e contra as retiradas de direitos conquistados pela luta popular em curso, com suas vitórias e derrotas há mais de um século. Aqui estamos há 18 anos, de forma pública, com bandeira, endereço e publicações tanto impressas como virtuais. 

Participamos dos movimentos populares, estudantil, sindical, comunitário, nas rádios comunitárias, no bloco de lutas pelo transporte público, enfim, nas lutas sociais que somos chamados a pelear ou solidarizarmos. Já somos conhecidos sim, pelas policias, pelos movimentos sociais também pelos partidos políticos, inclusive por vários setores do PT e demais que compõem a base do atual governo de turno no RS porque de fato existimos e nunca nos furtamos a pelear. 

Logo após a divulgação da operação da Polícia Civil o governador Tarso Genro se apressou a nos atacar da forma mais vil e covarde possível. Ansioso por nos golpear, Tarso nos associou ao fascismo, conclamando as organizações da esquerda a reverem suas políticas de aliança de forma a nos isolar. “— Todos os partidos e pessoas, inclusive os de ultra-esquerda, tem de ajudar a combater isso. Ninguém sobrevive a isso. Todos sucumbem. O caminho é aquele que nós já conhecemos e causou a Segunda Guerra Mundial” Assim se pronunciou o histórico dirigente do PT e governador do Estado Tarso Genro. Aliás, assim se pronunciou o ex-dirigente do Partido Revolucionário Comunista (PRC), irmão de um dos maiores teóricos marxistas do Brasil (Adelmo Genro Filho) e ele mesmo um ex-militante com dezenas de conflitos contra a repressão. Mas isso foi no século passado, não é governador?

Diante da absurda acusação de que somos fascistas, sugerimos aos assessores do palácio e aos agentes dos serviços de inteligência uma rápida pesquisa sobre as inconformidades ideológicas e históricas do que afirma o governador, pois historicamente combatemos o fascismo, existem correntes libertárias que dedicam-se exclusivamente a isto, sobretudo na Europa. Aos senhores jornalistas, lhes sugerimos ainda uma pesquisa sobre a resistência ao fascismo na Espanha e França no contexto da ascenção de Hittler e Mussolini sobre a Europa assim como sobre o episodio de 07 outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo, quando a épica coluna operária, formada sobretudo por anarquistas deu combate aos integralistas de Plínio Salgado da AIB (Ação Integralista Brasileira), no fato conhecido como “ a revoada das galinhas verdes”. Fomos e seremos sempre os primeiros nas fileiras de combate a qualquer forma de totalitarismo, sejam eles stalinistas, fascistas ou de qualquer outra natureza. Ser anarquista não é crime.

Já que o senhor Tarso se demonstra tão preocupado com o avanço do fascismo, lhe indagamos: Organizar uma biblioteca pública com foco em literatura anarquista e obras diversas é um crime? Se nossos livros estão sendo apresentados como provas de crime segundo as declarações da cúpula de segurança pública, o que pretendem o senhor Tarso e demais autoridades do estado com isso? Vão fazer como os fascistas e queimar nossos livros em praça pública? Proibir a impressão e venda de títulos relacionados ao anarquismo? Realizar incursões em residências a busca destes títulos, dado o caráter “inflamável” de tal literatura? 

Reconsidere suas palavras senhor Tarso, pois são estas operações policiais, sob sua responsabilidade, que afinal se mostram vinculadas a uma prática de perseguição de idéias libertárias, portanto terminam por apoiar práticas que cheiram fascismo. Lembramos ainda que há sim grupos nazistas em Porto Alegre, os quais estavam armados com facas no último protesto do dia 20 de Junho, circulando livremente sem a correspondente repressão que nos dedicam, procurando os anarquistas da FAG. O que lhes parece que queriam, seguramente não era pra debater a conjuntura não é? Quanto a isto o que farão os responsáveis pela segurança pública. Livros não são crime!

Sabemos que a meta do governo estadual é política. O objetivo de toda essa guerra psicológica é semear pânico, isolar-nos do cenário e assim pavimentar o caminho para a sanha repressiva em direção de nossa organização e seus militantes.
Por fim, reafirmamos que não iremos nos dobrar a mais essa investida. Desde o início do ano estamos sendo alvejados pela repressão, ainda que até então ela não tenha nos atingido com tamanha intensidade. No início de abril, logo após um massivo ato contra o criminoso aumento das passagens de ônibus, que reuniu mais de 10 mil pessoas nas ruas de Porto Alegre, tivemos nosso site retirado do ar. Na verdade, o domíniowww.vermelhoenegro.org simplesmente sumiu, assim como seus domínios espelhos. Esta censura que segue vigente, fazendo com que encontremos espaços alternativos para divulgar nossas opiniões.

Situação semelhante também ocorreu em novembro de 2009, quando nossa antiga sede foi invadida pela mesma Polícia Civil, a mando do então governo Yeda Crusius (PSDB) em função de um cartaz onde responsabilizávamos politicamente a governadora e o oficial da Brigada Militar no comando do campo de operações pelo assassinato do colono Elton Brum da Silva, em 21/08/2009. O militante sem terra foi morto a sangue frio e a queima roupa por um tiro de calibre 12, enquanto protegia as crianças em uma desocupação de terra na campanha de São Gabriel. Naquela ocasião, por fazermos a denuncia e darmos solidariedade também tivemos nosso site censurado e ainda hoje 06 companheiros/as de nossa organização seguem respondendo processo judicial, no qual seguimos reafirmando que Yeda e o comando da BM foram os responsáveis diretos pelo assassinato de Elthon Brum!

Assim como não nos dobramos a repressão vil do governo Yeda, tampouco iremos nos dobrar a repressão do governo Tarso, que busca isolar a esquerda combativa de forma a atacá-la com maior contundência sob os aplausos e gargalhadas dos setores mais reacionários de nosso Estado e país. Tarso, ex-comunista, ex-dirigente revolucionário, mudou de lado e hoje é uma caricatura torta do militante que pretendia ser nos anos ’70 do século passado. Hoje se porta de maneira servil diante da RBS. Para “defender” o papel simbólico da empresa líder na comunicação social, orienta a Brigada Militar a atacar os manifestantes quando passam do outro lado do Arroio Dilúvio, em uma avenida de seis pistas! Não foram os anarquistas que lideraram a linha de frente da marcha da ultima quinta feira em direção a ZH. Choveu bombas de gás e balas de borrachas sobre as cabeças com caras pintadas de verde e amarelo e flores nas mãos. A imagens dos protestos da última semana em Porto Alegre têm a marca das bombas da BM lançadas contra o povo ordeiramente em marcha na direção da Zero Hora.

Enfim, esse é o caminho pelo qual trilham, invariavelmente, as políticas de pacto social. A história já nos demonstrou de forma clara, basta olharmos a social democracia alemã e sua caça aos conselhos operários sob influência dos então spartarkistas, delegados revolucionários e também de muitos anarquistas. Caçada essa que levou a ostensiva perseguição de valorosos militantes da classe trabalhadora alemã, como Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Gustav Landauer, este último militante de nossa corrente anarquista. Todos eles presos e assassinados a coronhadas pelas forças de repressão da social democracia. Todos estes militantes serviram de bode expiatório para as políticas de conciliação de classe, que, somadas com a inércia decisória, levaram ao caos e ao nazi-fascismo. Governador, conforme foi dito, se nós estivéssemos à beira da 2ª Guerra Mundial, seríamos milicianos espanhóis, resistentes franceses ou partigianos italianos. Já o senhor, de que lado estaria? De que lado está agora? 

A FAG, com 18 anos de história e vida pública e permanente atuação em diversas das lutas sociais em nosso estado e país, é parte de um legado histórico de uma corrente que há quase dois séculos levou às últimas conseqüências o combate a reação, as classes dominantes e seu Estado lacaio. Sim temos relações internacionais e estas surgiram em 1864, na 1ª Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT. Todas as correntes do socialismo têm relações com agrupações afins em diversos países. Todas as vertentes do socialismo são internacionalistas, ou o ex-dirigente do PRC também considera isso um crime? Se hoje no país os trabalhadores têm assegurados alguns direitos, estes são fruto de 40 anos de luta sindical antes de 1932. Esta luta era mobilizada por sindicatos livres, desvinculados de partidos políticos, e os organizadores eram militantes anarquistas. O anarquismo é parte da luta popular no Brasil e no Rio Grande do Sul e continuará sendo. Nossa organização ajuda a organizar a luta pelo direito à mobilidade urbana, pelo passe livre e redução dos preços das passagens. Somos parte integrante do Bloco de Luta pelo Transporte Público desde sua fundação, assim como militamos e participamos em diversas frentes de lutas sociais, como Movimento Sem Terra, Rádios Comunitárias, Sindicatos, Movimentos Estudantis, de Luta pela Moradia, Comunitário, somos linha de frente na luta pela diversidade e desde o começo nos Comitês Populares da Copa.

A nossa história, “excelentíssimas autoridades” é escrita com o sangue e suor das barricadas dos oprimidos e assim sempre será. Vossa sanha repressiva nunca será capaz de nos calar. Não tememos as hienas e nem a fábrica de mentiras da RBS! A verdade fala mais alto entre os militantes do povo. Somos militantes de esquerda não parlamentar, militantes populares e não terroristas. Terrorista é quem joga bombas contra dezenas de milhares de pessoas caminhando desarmadas. Tarso Genro, RBS e oligarquia gaúcha, sua campanha difamatória tem pernas curtas e a mentira não passará.

Não tá morto quem peleia!

sábado, 22 de junho de 2013

20 de junho, A Batalha em Salvador e o Exercício Revolucionário

Confronto entre policiais do choque e manifestantes no Dique do Tororó

Confronto na Praça do Campo Grande

Confronto na Praça do Campo Grande, o povo recua mediante a muita resistência e determinação em sua luta por um mundo novo como um dia nos disse Durriti "Levamos um mundo novo em nossos corações..."

O Coletivo Anarquista Ademir Fernando se fez presente desde o inicio da manifestação até a dispersão quase que total no campo grande quando os estudantes e a população em geral recuou até a porta da Reitoria da UFBA sendo obrigada a fragmentar-se em pequenos grupos espalhados pela cidade.

O CAAF se solidariza com a luta do povo oprimido e pede apenas um lugar nas barricadas para lutar ombro a ombro com o povo porque não acreditamos em líderes iluminados, mas no protagonismo do povo organizado. Como diz uma canção de Hip Hop "se cresce a bancada ou se fortalece a barricada", neste caminho de esperança escolhemos nosso lado, e fortaleceremos junto a nossa classe a barricada.

Estas fecham as ruas e abrem os sonhos de um mundo novo e uma vida melhor para nós e para os nossos filhos e netos. Escreveremos a história com sangue, suor e barricadas pois a vida do povo não se transformou de outra forma, a burguesia nunca nos deu nada, tudo que temos conquistamos na luta e na marra.

Adiante povo baiano façamos em cada rua, beco e viela da capital nossos mortos renascerem para lutar lado a lado conosco, adiante jovens... sois filhos dos mais bravos e bravas guerreiras, Malês, Bantus, Hausas, Jejes, Pataxós, Kiriris... Nosso história é de luta e resistência!!! 




sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vencer o aumento das tarifas nas ruas, vencer o reformismo nos movimentos sociais!

Vídeo do momento em que a Tropa de Choque do Governo do PT invade a praça do Campo Grande em Salvador - Bahia, atirando balas de borracha, bombas de efeito moral e lacrimogênio contra a população.

A população de pelo menos 28 cidades do Brasil saiu às ruas nas ultimas semanas para lutar contra os abusos das classes dominantes, que se expressa, agora, em aumentos na tarifa do transporte público. Esse movimento é fruto de uma insatisfação popular que já vem se desenvolvendo à muito tempo, gerada pela forma como o Estado vem se organizando e mostrando seu verdadeiro caráter de classe: está junto com os empresários e não com xs trabalhadorxs.

Essa insatisfação popular não é resultado de um aumento de 0,20$, 0,30$ ou 0,35$ no valor da tarifa do ônibus, mas sim o acúmulo de uma série de ataques do Estado às condições de vida dos/as trabalhadores/as, tais como o acesso precário à saúde, o transporte coletivo precarizado (tanto para os usuários como nas condições de trabalhado para os/as próprios/as funcionários/as do transporte – motoristas e cobradores/as), a mídia que manipula as informações em benefício do Estado e das classes dominantes, criminalizando os/as trabalhadoros/as, a pobreza e os movimentos sociais.

É por isso que o povo foi pra rua, pra mostrar sua insatisfação e responder à violência do Estado, da qual é vítima diariamente em todos os espaços de sua vida. É por isso também que esse movimento não para de crescer e tem um potencial transformador, pois ele é o acúmulo de um descontentamento histórico das classes exploradas desse país.
Os exemplos de luta que estamos observando nas maiores cidades do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, principalmente, são um dos combustíveis que nos move nesta luta, pois mostra que a luta do povo não é local, nem regional, nem uma luta isolada dos outros problemas sociais, mas é uma expressão da crise dessa forma de sociedade em que vivemos, onde pequenos grupos de indivíduos se beneficiam com a exploração e exclusão da grande maioria da população.

Diante disso vemos qual é a reação imediata da classe dominante ao levantamento do povo: enviar a polícia, legitimar a repressão com o discurso do “exagero” e do “vandalismo”, intentando assim criminalizar o movimento social frente ao resto da classe trabalhadora. Os mais de 300 manifestantes presos em São Paulo são um claro exemplo disso. Porém pensemos na violência do próprio Estado: trabalhadores/as que deixa de usar o transporte público por não ter dinheiro da para pagar pelas altas tarifas (estima-se que 37 milhões de trabalhadores deixam de usar o transporte público por não poder pagar); subsídios às empresas de transporte, retirados dos impostos que os/as próprios/as trabalhadores/as pagam; desocupações para responder aos interesses da especulação imobiliária; violência da polícia, impedindo que nos manifestemos, prendendo e espancando aqueles que buscam lutar por melhoras em sua precária condição de vida. É preciso entender que ao legitimar o discurso do pacifismo, estamos legitimando o discurso das classes dominantes, que exigem para si (o Estado seu fiel defensor) o monopólio da violência. O Estado existe para proteger o status quo, para manter a exploração e dominação dos/as trabalhadoros/as. A Luta de Classes não é pacífica.

A burguesia não irá ceder pelo problema moral de milhares de pessoas estarem nas ruas protestando. Ela irá ceder por receber prejuízos dos atos do movimento. Portanto, as manifestações precisam causar alguma forma de prejuízo a burguesia para que suas reivindicações sejam atendidas pelo Estado.

O fato de alguns grupos políticos tentarem manchar o real caráter deste movimento popular classificando-o como “violento” só expressa o medo destes sobre a capacidade transformadora desse movimento. É muito claro que quem deseja participar da ordem vigente irá criticar quem deseja revolucioná-la, pois apresenta um perigo ao seu objetivo de substituir a direção do Estado.

Portanto, sem medo das críticas daqueles que somente desejam neste movimento capitalizar força política para participação desta ordem, ou seja, participar da democracia burguesa, que buscam neste movimento angariar adeptos as suas campanhas, e mesmo se construir como “salvadores”, que em troca de seu voto oferecerão mundos e fundos, para depois trair a vontade do povo, devemos seguir, assim como em diversas capitais do Brasil, a exemplo de Goiânia e Porto Alegre, onde pela via da Ação Direta se revogaram os aumentos. Essa é a forma de pela qual conseguiremos barrar o aumento, bem como a forma pela qual ousamos transformar as bases da sociedade. REVOGAR O AUMENTO DO BUZÃO PELA FORÇA DAS RUAS! 

Coletivo Anarquista Luta de Classe - CALC

17 de junho de 2013 


Baixe a versão impressa: Opinião Anarquista 2 - 17.06.13

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Luta contra o aumento das passagens e o Anarquismo

Coordenação Anarquista Brasileira




O contexto da nossa luta

Nesse primeiro semestre houve diversas mobilizações de norte a sul do Brasil que enfrentaram a reação conservadora dos governos, do aparelho repressivo e da mídia. Desde as lutas em defesa do transporte público nas capitais, passando pelas greves nos canteiros de obras do PAC, até a resistência indígena dos povos originários, todas essa lutas foram alvos da criminalização do protesto que segue em curso no país sede da Copa do Mundo. Vivemos um dos momentos mais agudos da luta de classes no Brasil. O capital internacional avança diariamente a passos largos, explorando os trabalhadores e as trabalhadoras na busca do lucro.

Resistência dos/as oprimido/as x Violência do Opressores

Uma consequência dessa lógica do capitalismo se expressa no transporte. Somos diariamente violentados. Esperamos em intermináveis filas, viajamos horas em transportes superlotados e sem manutenção, correndo risco de vida. Sofremos com o a violência da ganância, do descaso, da roubalheira, das máfias das empresas de transporte público, ajudadas pelos governantes a lucrarem cada vez mais. Mas quando o povo vai para as ruas reclamar contra esta injustiça o que acontece? É violentado! Tropas de choque, gás lacrimogêneo, spray de pimenta, bombas, balas de borracha à queima roupa que podem cegar ou até matar. Todo um aparato de guerra é usado contra o povo, e dezenas de manifestantes são presos e feridos pela polícia.Tanto a truculência da polícia e o descaso do poder público para o social, quanto o desrespeito que os empresários do transporte público nos fazem passar diariamente,todas estas são formas de violência contra o povo. E todas as formas que o povo usa para se defender contra esta violência são legítimas. Toda forma de resistência, ainda que com táticas distintas é legítima. A violência em todos os atos SEMPRE começou com a polícia, a fiel defensora das elites e da burguesia. Polícia, que curiosamente foi apoiada em sua última greve por legendas políticas de esquerda que hoje caluniam o anarquismo para “encontrar” um bode expiatório que divida a nossa luta.

Lutar não é crime

O povo, organizado nos movimentos sociais, manifestando-se por justiça, não pode ser criminalizado, agredido ou preso. Devemos ter cuidado com a estratégia dos poderes dominantes de criminalizarem “individualmente” militantes e ativistas que lutam contra o aumento da passagem.  Muitos já estão com processos nas costas por lutarem. Lutar não é crime! Não podemos deixar que nossos companheiros/as sejam criminalizados/as! Essa criminalização deve ser denunciada! Essa é a verdadeira face da democracia burguesa, escondida de dois em dois anos nas urnas e propagandas eleitorais mas que mostra suas garras quando surge a resistência! Não podemos reforçar dentro das nossas fileiras o discurso de criminalização daqueles que lutam tentando encontrar bodes expiatórios no nosso movimento. Todos/as aqueles/as que saem às ruas para se opor a máfia dos transportes são ilegais por natureza, pois enfrentam a burguesia e o Estado de “direito/a”.

Nossa concepção de anarquismo

Nós anarquistas organizados politicamente na Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) participamos modestamente de diversas mobilizações e cerramos fileiras com trabalhadores e militantes em diversos estados do país. A CAB é uma instância que reuniu diversas Organizações Anarquistas Especifistas de todo o Brasil para articular a luta e construir no futuro uma Organização Anarquista em nível Nacional. É constituída por 9 Organizações de diferentes Estados, de base Federalista que constrói – a partir de práticas concretas – unidade estratégica e maior organicidade para intensificar a inserção social no seio de nosso povo. Nesse sentido, são mais de 10 anos de resgate do Anarquismo enquanto corrente libertária do Socialismo, organizada politicamente e inserida socialmente. A CAB é formada por uma diversidade de sujeitos sociais que acreditam na já antiga mas atualíssima máxima que diz que a “emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”, porém aliada também a histórica prática da organização do anarquismo enquanto partido, como foi a Aliança da Democracia Socialista de parte da Ala Federalista e Anti-autoritária da 1ª Internacional (Bakunin, Guillaume, Malatesta, Cafiero e outros) e também da nossa irmã Federação Anarquista Uruguaia, que se manteve atuante durante a ditadura militar uruguaia enfrentando esta com inserção popular/estudantil e com um aparato armado.

No entanto, nossa rica história que se confunde com a história da classe trabalhadora é muitas vezes atacada, desmerecida ou deturpada: muitas vezes trata-se do simples desconhecimento ou a reprodução de discursos simplificadores e reducionistas, porém, muitas vezes se trata da má fé, do preconceito e da necessidade de construção política na base da calúnia, auto-promoção e mentiras. Não nos surpreendemos quando estes ataques partem da mídia corporativa/burguesa, que tenta sempre criminalizar e estereotipar aqueles que lutam. Mas quando vem das fileiras de nós trabalhadores, devemos nos posicionar de maneira firme para combater o sectarismo que sempre divide a luta popular. Recentemente, o  último texto que tivemos contato e que faz referência aos “anarquistas” nestes moldes é uma nota lançada pelo setor de juventude do PSTU em meio a luta contra o aumento das passagens. Assim, nos posicionamos nacionalmente não para entrarmos na briga de quem é mais revolucionário ou possui a verdadeira interpretação do período em que vivemos, mas sim porque julgamos necessário combater as calúnias e evitar a confusão em nossas fileiras.

Nossa implicação enquanto CAB se dá por um conjunto de motivos que normalmente são veiculados em materiais como o que nos referimos acima: generalização e estereotipação do anarquismo; acusação de que somos uma seita esquerdista e que não teríamos nenhuma responsabilidade; de que somos anti-partidários; de que seriamos sectários e intransigentes, que fazemos alianças somente com quem pensa da mesma forma que nós; que atacamos toda e qualquer entidade sindical, estudantil e popular como sendo burocrática e desnecessária à luta e o pior, dizer que nós anarquistas classistas e revolucionários somos apenas liberais/pequeno-burgueses que defendem a luta “individual” como estratégia de luta. 

Nós da CAB fazemos parte de uma tradição político-organizativa (anarquismo “especifista”) que nasceu no seio dos trabalhadores. Tem esse nome porque retoma princípios básicos do anarquismo e reafirma a necessidade de nos organizarmos politicamente enquanto militantes anarquistas e socialmente nos movimentos populares. Essa necessidade política se expressa por meio de uma Organização Política Anarquista, Federalista e de Quadros, com critérios de ingresso, formação militante, dotada de um Programa Mínimo, Estratégia de Curto e Longo Prazo e Objetivo Finalista. Não apostamos portanto, na luta “individual” e desorganizada como estratégia de vitória mas sim no acúmulo de força social nos movimentos populares. Dessa forma, não somos espontaneístas, achando que a organização popular virá por ela mesma. Ao contrário do que alguns dizem, seguimos contribuindo com o fortalecimento dessa organização, com esforços modestos mas firmes, no movimento popular, sindical, estudantil e camponês em diversos estados deste país. 

Cabe também sublinhar que não temos a pretensão de como organização política anarquista e classista “representar” a totalidade dos anarquistas fora da nossa coordenação, assim como não exigimos a determinados partidos marxistas que respondam pela totalidade dos marxistas. Somos parte de uma organização política anarquista classista que trabalha com princípios em comum, critérios de ingresso, estratégia militante e unidade teórica/ideológica. Neste sentido, rejeitamos a associação preconceituosa de qualquer um que vincule de modo quase que automático o anarquismo a desorganização, sendo que não há nenhum elemento histórico que embase esta afirmação. Respeitamos, ainda que com diferenças, as distintas formas de associação, sejam elas partidárias, independentes ou de outras bandeiras políticas que venham se somar a luta. Mas rejeitamos quaisquer tentativas de dividir o movimento internamente. O sectarismo venha de onde vier é danoso e divide a classe.

Mesmo com as diferenças de prática política e ideológicas, acreditamos que o respeito mútuo entre os setores da esquerda é algo que fortalece a luta. Devemos saber o momento de fechar o punho contra o capital. Por isso exigimos o respeito pelas contribuições históricas do anarquismo, enquanto corrente libertária do socialismo, na luta junto ao movimentos dos trabalhadores, como no campo do sindicalismo revolucionário e camponês, e atualmente com nossa modesta e consequente atuação e contribuição em diferentes campos de luta social (agrária, sindical, estudantil, comunitária).

A unidade da luta

Consideramos que a unidade na luta e a organização pela base são os principais caminhos para derrotar a máfia dos transportes, construído com a unidade de diversos setores da esquerda numa bandeira em comum: a derrota da máfia dos transportes e a luta contra o reajuste pela força das ruas. Tendo isso em vista, nós da CAB integramos, construímos e respeitamos todos os espaços de deliberação coletiva que organizaram as lutas contra o aumento da passagem em diversos estados. Ao contrário da calúnia circulada pelo PSTU sobre o anarquismo não somos espontaneístas e tampouco desrespeitamos a disciplina coletiva.

Cabe ressaltar que a luta não pode ser capturada por um partido, domesticada por uma legenda, por que a luta é uma tarefa da classe. A luta também não é “apolítica” e desorganizada. Porque nela nos formamos, aprendemos com os erros, crescemos e acumulamos força para o dia seguinte. Defendemos uma unidade construída sem sectarismos e com respeito às diferentes forças da esquerda. Fazer uma luta apartidária é diferente de fazer luta anti-partido. Isso significa respeitar as legendas/bandeiras que atuam no interior da mobilização popular, unindo as diferentes forças políticas por pautas em comum.

A verdade que incomoda: um movimento que não foi capturado

O que mais incomoda algumas legendas políticas é o fato deste movimento social, que saiu as ruas para enfrentar o governo e os patrões, não ter sido capturado por nenhuma vanguarda “esclarecida” ou partido político. É propício lembrar que alguns desses partidos que hoje condenam do alto de sua arrogância as fraquezas desse movimento popular/estudantil diziam algum tempo atrás informalmente por seus militantes “que não haviam condições objetivas para se fazer essa luta”. Felizmente eles foram contrariados e até mesmo, arrastados pela vontade da luta popular que moveu milhares. Esse movimento, apesar de compartilhar muitos princípios comuns ao nosso setor libertário e também com táticas de luta da classe trabalhadora não pode ser claramente identificada a nenhuma ideologia política apesar de em seu interior conter diferentes ideologias da esquerda. O movimento também não surgiu de nenhum partido político, apesar de ter sido construído com esforço de muitos militantes de partidos, o que deve ser valorizado. Isso não significa que este movimento não tenha problemas. Mas como diria um histórico companheiro da esquerda é “melhor dar um passo com mil do que mil passos com um” e vamos seguir trabalhando para construir e organizar melhor a luta contra o aumento das passagens junto com outros setores políticos sem a pretensão de nos tornarmos “os donos do movimento”. 

Temos consciência das inúmeras deficiências e obstáculos que precisamos enfrentar e que enfrentaremos dentro dessa luta. No entanto, também temos consciência de nossa sinceridade, modéstia e firmeza naquilo que nos propomos. Nos últimos 10 anos temos participado em maior ou menor grau de diversas lutas, construções, embates na América Latina e no Mundo e, independente das divergências com outras tradições do Socialismo exigimos respeito. Estamos juntos e lado a lado na luta pelo Socialismo e pela Liberdade e daqui não nos retiraremos. Seguiremos na luta contra o aumento do transporte em diferentes Estados à despeito da calúnia da mídia burguesa e de infelizmente, alguns setores políticos. 

Derrotar o aumento pela organização popular coletiva/de base e pela força das ruas!!! Lutar, criar, poder popular!

Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)